segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Inéditos de Natal, por Elita Guerreiro (poema e conto)

 

POR ONDE ANDAS, JESUS?

 

Quero acreditar

Que o velho Pai Natal

Vai descer pela chaminé.

De mansinho, pé ante pé,

E sem que ninguém perceba

Venha deixar a esperança,

Nestes ténis de criança,

Uma pequena oferenda!

 

É Natal sem Consoada:

Pão, sopa e mais nada…

Desempregados, os Pais

Não há dinheiro para mais!

Perdeu-se a alegria

Que faz brilhar este dia!

Natal triste, sem luz…

Por onde andas, Jesus?

 

Tu, que foste criança,

Repõe a esperança

De um Natal de paz e amor

Para este mundo de dor!

Estende-lhes a mão, Senhor,

Para que vejam o sol,

E aprendam como é

O teu caminho de fé!...

 Elita Guerreiro, Natal 2022


LÁ FORA O PAI NATAL

(CONTO)

Do lado de fora da janela da sala, o Pai Natal assistia ao movimento da casa.

domingo, 11 de dezembro de 2022

A Grande Árvore de Natal, por Adalberta Marques

 

A GRANDE ÁRVORE DE NATAL

Haviam deixado para trás o seu pequeno país, um país tão pequeno que não se encontrava em qualquer mapa.

Os pais avisaram as crianças que partiam rumo a um país grande, mas distante, deixando para trás o seu, onde tinham nascido, vivido e crescido. O pequeno país que deixaram para trás era especial: ninguém se queixava, quando o sol escaldava os pés ou quando o frio enregelava as mãos. As portas estavam sempre abertas, no entanto ninguém se preocupava com o que se passava no interior das casas, de onde exalava um doce odor a comida recém - cozinhada. Se algo menos bom acontecia, todos entravam com a bandeja da solidariedade, empatia e entreajuda, porque todos eram unos.

No país pequeno, como quase meia casca de noz, todos cantavam como se fizessem turnos e nas horas em que umas vozes se calavam, cantavam as outras. Chegaram ao grande país, na época do natal: os olhos das crianças reluziram, tal como reluzentes estavam as portas ornamentadas, onde as luzes multicolores piscavam incessantemente.

As crianças pergutaram, quase em coro, porque não brilhavam assim as portas do país de onde vinham, porque não tinham árvores de natal, como as que se avistavam para lá daquelas janelas?!...

Enquanto as crianças dormiam, seu pai foi ao pinhal e apanhou um pinheiro tão grande, que quase batia no tecto, teriam grande surpresa ao acordar. Porém, a meio da noite, o pinheiro tombou sobre uma das camas, acordando as crianças todas, que sorriram dizendo:

-Vejam, também temos uma árvore de natal!

Outra das criancas retrocou:

-Mas a nossa árvore de natal não tem luz, é apenas uma árvore verde.

-Tem, sim- respondeu o homem- tem luz no seu interior para ser árvore de natal, não tem que ter apenas brilho nem muitos enfeites, mas precisa de ter amor e paz. Além disso, nas grandes florestas, as árvores também não são todas idênticas, porém as raízes de todas são profundas, vêm do centro da terra, dando brilho e vida à vida de todos nós.

Quando crescerdes, podereis contruir as vossas próprias árvores de natal e colocar nelas muitas luzes: bolas de cores vibrantes e estrelas, mas certamente recordareis sempre a musicalidade da vossa primeira árvore de natal e a musicalidade das vozes dos homens do distante e pequeno país. Quem sabe?! - perguntareis a vós mesmos, se foi realidade ou se foi apenas um sonho ficcionado. Tocareis os vossos rostos para percepcionardes se dormis ou se estais acordados. Não vos admireis também da excessiva emoção de alegria ou de tristeza da época: observareis como se prepara a mesa de natal no país onde agora viveis, o cuidado como se põem os pratos  mais bonitos na mesa e a nostalgia com que se fitam os lugares desocupados na mesma, por quem tanto amor nos doou. Lembrareis também os sem árvore de natal e os sem pão. Podereis ajudar a abotoar os atacadores dos sapatos das crianças que ainda não os possuem.

Numa correria louca e feliz, as crianças desembrulharão os presentes...

É de magia que vos falo! Não da magia das fadas, mas da magia do natal, iluminando de saudade, ternura e amor o vosso pequeno país e este onde agora habitais.

Ah! E não vos esqueçais que foi ela, quem em vós acordou a magia quando, a meio da noite, sobre vós tombou.

Ela! A grande árvore de natal...

 

Adalberta Marques

domingo, 30 de outubro de 2022

Halloween, por Carmo Bairrada

 


O HALLOWEEN tem uma longa História praticada há mais de 3 mil anos. Apareceu com os Celtas, que eram um povo Politeísta (acreditavam em vários Deuses relacionados com animais e forças da natureza).

O festival de Samhain era celebrado pelos Celtas durante 3 dias e tinha início em 31 de Outubro. Além de comemorarem o final do Verão, comemoravam também a passagem do Ano Celta, que tinha início em 1 de Novembro. Havia a crença de que, naquele dia, os mortos se erguiam e se instalavam nas entranhas dos vivos, com o intuito de se defenderem dos maus espíritos.

Já mais tarde, na Idade Média, a Igreja iniciou a condenação de tal evento, passando a chamar-se “o dia das Bruxas”. Os curandeiros da época eram tidos como Bruxos, o que ia contra os Dogmas da Igreja. Foi assim que eles foram todos condenados à fogueira.

Por causa do Halloween, a Igreja passou a comemorar o Dia de Todos os Santos a 1 de Novembro, em vez de ser a 13 de Maio. Assim, afastaria os hábitos pagãos, mas isso não aconteceu.

Através da Imigração, o Halloween continuou a passar de geração em geração. Hoje, é uma festa com sólidas raízes especialmente nos EUA, Reino Unido e Canadá, onde ganham especial relevância. Além destes 3 países existem outros que festejam esta data. É uma alegria ver as crianças, contentes, vestidas com as suas fantasias estranhas e a Abóbora iluminada parecendo uma cara, a baterem de porta em porta, gritando a célebre frase: “doce ou travessura” / Trick or treat”.

Azeitão, 29-10-2022

Carmo Bairrada

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Conto inédito, por Elita Guerreiro

AMOR AO ENTARDECER

Entardecia naquela tarde de final de setembro. O sol envolvia a cidade, naquela luminosidade que só Lisboa parece ter. Morno, sobre o Tejo tranquilo, parecia despedir-se da cidade com alguma pena!

Caminhou sem destino certo, devagar, sem pressa… Santa Luzia, Limoeiro, Sé! Quase sem dar por isso chegou à mais bela sala de visitas do mundo: o Terreiro do Paço. Admirou, como se fosse a primeira vez, a belíssima estátua equestre e o deslumbramento do Tejo, onde os Cacilheiros no seu constante navegar, unem Lisboa a Almada na Margem Sul. Cais das Colunas: pequenas ondas vinham salpicar os degraus e desfaziam-se em pequenos e brilhantes cristais! Desviou o olhar e reparou naquela figura feminina: esbelta, cabelos ao vento, absorta na contemplação do horizonte. onde o sol ia desaparecendo. Como se sentisse observada, olhou na direcção do desconhecido. Primeiro, timidamente, depois com o à- vontade que só existe na juventude,  cumprimentaram-se.

-  Boa tarde!

Ela correspondeu. Tinha um sorriso lindo! Sem mais nada, começaram uma conversa, como se já se conhecessem de há muito. Falaram da beleza do pôr-do-sol, que se espreguiçava sobre o Tejo, tingindo-o de belas cores e das gaivotas barulhentas que, ao entardecer, enchem o cais.

- Posso saber como te chamas? - perguntou ele. Eu chamo-me Jorge.

- Eu chamo-me Sofia.

- Encantado, muito gosto!

Estavam feitas as apresentações. Atrevido, perguntou-lhe num misto de curiosidade e elogio:

- Donde vem toda essa elegância e esse estranho sotaque?

 Sorrindo, afastou do rosto uma madeixa de cabelo e, erguendo a cabeça, respondeu:

- Sou Alentejana do Baixo Alentejo, com muito orgulho.

- Só podia ser! Pareces uma haste de trigo, que o vento agita!

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Textos inéditos, por Elita Guerreiro



 A MAGIA DA CHUVA

Pingos de chuva, alegria,

Vêm bater na vidraça,

Quebram a monotonia

Da rua onde ninguém passa!

 

Noite escura sem estrelas

Na minha rua deserta,

Bate a chuva nas janelas,

Deixo as portadas abertas!

 

Têm uma certa beleza

As noites de escuridão,

Quando a alma está presa

Entre a mágoa e a solidão!

 

Que seja bem vinda a chuva

Que vem trazer a magia

À rua triste e turva,

Escura mesmo de dia!

 

Elita Guerreiro /24/10/2022

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Poemas inéditos, por Elita Guerreiro

 CAMINHAR DE OLHOS VENDADOS

 Parti de olhos vendados

Sem conhecer o caminho,

Levava sonhos guardados

Não caminhava sozinho!

Levava uma leve esperança

Nos meus passos apressados,

E tal como uma criança

Parti de olhos vendados!

Ninguém me viu ou ouviu

Quando murmurei baixinho,

E o meu coração seguiu

Sem conhecer o caminho!

Onde me iriam levar

Os meus passos torturados,

Quando iria descansar?

Levava sonhos guardados!

Dos olhos caiu a venda

Que perdi pelo caminho,

E sem nada que me prenda

Já não caminho sozinho!

 Elita Guerreiro, 30 / 3 / 2019

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Homenagem à irmã, por Adalberta Marques

 

LINDA

Assim lhe chamavam, porém esse não era o seu nome verdadeiro.

Ia com os ranchos de homens e mulheres para longe, em busca de trabalho no Alentejo, que a viu nascer. O seu corpo adolescente e moldável adaptava-se à maleabilidade da terra avermelhada. Na almofada de trigo adormecia, escutando o cante dos homens, ao qual de manhã juntava o seu. Para ambos, ela e o canto alentejano, aquela extensa planície não tinha largura suficiente: os sonhos nas almofadas de trigo galgariam voos largos e o do cante património imaterial da humanidade.

Aos dezasseis anos não olha para trás, mas traz consigo quanto para trás deixou. Aprendeu costura num alfaiate na Trafaria, seguidamente muda-se para o Barreiro. Posteriormente, vai viver para Oleiros, frente à capela de São Marcos.

Entretanto casa e vão viver para o número 41 da Rua da Misericórdia, rua característica de Azeitão, uma quase comunidade/Amizade.

Trabalhou também no José Maria da Fonseca e Casão Militar, aquando da guerra colonial cosendo consigo um grupo de várias adolescentes. Finda a guerra, trabalha como secretária do exército. Foi a menina bonita da bilheteira do Cine- Azeitão, na rua José Augusto coelho em Vila Nogueira de Azeitão, membro do coral da Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense e representou o Turismo da Costa Azul com artesanato em todo o país , tendo um dos seus trabalhos obtido um primeiro prémio.

Pintou o seu auto-retrato, envolta no seu vestido de organza cor-de-rosa e esvoaçante tal como os seus sonhos.

Pintou uma extensa colecção de quadros a óleo.

Mãe e Avó extremosa e dedicada.

Linda deixou um vazio na família e Amigos. Continua linda e presente nos nossos corações.

Mas linda não era o seu nome, só ele me sabia pentear as duas grossas tranças.

A linda de que vos falo era:

-Maria Margarida Alface, aluna da Universidade Sénior de Azeitão, minha irmã, a quem presto esta homenagem.

 

Adalberta Marques e, para muitos, Jú