sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

PORQUE QUEM NÃO SABE ARTE NÃO NA ESTIMA" ("OS LUSÍADAS", V, 95-100)

(em formatação)

(Análise de Maria do Carmo Bairrada, com ilustrações e slide-show final sobre "iluminuras" do nosso Renascimnto: pormenores de fauna, flora e outras cenas alusivas aos Descobrimentos portugueses)
PORTUGAL NO CONTEXTO SÓCIO – CULTURAL DO SÉC XVI
 Portugal, no Séc. XVI, desfrutava de uma situação invejável. Foi o “período maior” da nossa História. Na literatura pode considerar-se este século como, verdadeiramente, excepcional. A língua fixou-se e foi capaz de cultivar todos os géneros e de exprimir todos os sentimentos, pela flexibilidade de sintaxe e por muitos vocábulos introduzidos no seu uso. Tratam-se todos os temas e géneros, desde a História às Novelas, de Obras Morais e Científicas à Poesia, elevando assim às alturas as letras portuguesas. O séc. XVI é o século de Camões e Gil Vicente.
Lisboa é o grande empório comercial da Europa. Cruzam-se nas ruas grandes comerciantes alemães, italianos, ingleses, castelhanos e flamengos. O porto de Lisboa passa a ser o mais movimentado do Atlântico Ocidental. Os navios da Índia chegam carregados de mercadorias. A Casa das Índias não dá conta das encomendas que lhe chegam de toda a parte. Os descobrimentos e conquistas dos portugueses tiveram grandes repercussões artísticas:
ARQUITECTURA 

Estilo Manuelino - Substitui o Gótico e vai buscar os elementos decorativos aos temas nacionais:  emblemas régios, cordames, apetrechos naúticos e a fauna e flora evocativa do mar.                                                                                                             
 Monumentos:
Torre de Belém -  Lisboa;
Mosteiro dos Jerónimos - Lisboa
Convento de Cristo -Tomar
Palácio da Pena – Sintra
PINTURA 
A influência das conquistas manifesta-se na pintura de então:
Exº.  Painéis do Museu de Arte Antiga” – Onde está representada o início da epopeia, com o Infante D. Henrique, D. Afonso V, um grupo de Monges, de Cavaleiros e de  Pescadores.
No decorrer do Séc. XVI esta influência acentua-se nas obras de: Jorge Afonso, Gregório Lopes, Sanches Coelho, Cristóvão de Figueiredo, etc...
ILUMINURAS
É a arte que prestigia a “ilustração “ e “ornamentação” de um texto. Foi nos reinados de D. Manuel I e de D. João III que se atingiu em Portugal os níveis mais altos na arte da iluminura. Além dos primeiros Forais e Crónicas, temos os mais conhecidos exemplos no
“Livro de Horas de D. Manuel I”- Repleto de formosíssimas iluminuras. Destaca-se na 1ª página a figura se S. João Evangelista rodeado duma cercadura na qual constam, o Paço da Ribeira e numerosas embarcações do Tejo.  
 “Adoração dos Reis Magos”:  reparar em uma bela representação plástica de um Índio.
OURIVESARIA
Esta arte foi desenvolvida com a afluência dos metais nobres e pedras do Oriente, atingindo uma perfeição nunca antes alcançada. De todas as obras produzidas a mais célebre é a Custódia de Belém, feita com as páreas (desagravos) pagas pelo rei de Quiloa a Vasco da Gama. Levou 3 anos a executar pelo grande mestre Gil Vicente e seus ajudantes.          
TAPEÇARIA
Em grande voga na época, entre as Tapeçarias Históricas Portuguesas sobressaem:
A Tomada de Arzila por D. Afonso V  e  as Tapeçarias de D. João de Castro, peças de grande valor para o estudo das armaduras da época.          
CERÂMICA E PORCELANA
A cerâmica e mobiliário e outras artes sofrem também desenvolvimento idêntico, devido à vinda de produtos orientais que começaram a ser imitados.
ETNOLOGIA
Fez progressos no estudo dos costumes e tradições dos povos.
BOTÂNICA E ZOOLOGIA
Estas duas áreas fizeram progressoas consideráveis devido ao conhecimento duma Flora e Fauna até então desconhecidas.
MINERALOGIA
Esta área entrou em actividade, em sequência dos metais preciosos provindos dos novos “mundos” descobertos.
HISTÓRIA CIENTIFICA
Baseada nas relações dos colonos, dos missionários, dos exploradores e dos viajantes.
CIÊNCIAS
O mais ilustre matemático português – Pedro Nunes – foi o inventor do “Nónio” (é uma dupla de escalas graduadas em milímetros ou graus, que deslizam uma sobre a outra; a 2ª. escala é que é o nónio e é possivel ler uma fracção da medida da 1ª. escala). Escreveu várias obras científicas, entre as quais avulta o – Tratado da Esfera -.
GEOGRAFIA
Foi a ciência que mais se enriqueceu com os descobrimentos. Alargou-se o conhecimento da Terra com as viagens feitas através dos mares e continentes, começaram a delinear-se os contornos das massas continentais, descobriu-se a comunicabilidade do Atlântico com o Índico e do Pacífico com o Índico. Aperfeiçoou-se a cartografia e conheceram-se novos países, novas regiões, novas ilhas, novos rios, etc...
MEDICINA E FARMACOLOGIA
Alcançaram-se  triunfos inesperados devido ao fornecimento de novas plantas curativas. Um dos maiores expoentes nestas áreas  foi Garcia de Orta , médico e botânico, autor do “Colóquio dos simples e drogas e cousas medicinais da Índia”. Estas obras foram traduzidas para Latim, Italiano e Francês.
LINGUÍSTICA
Iniciou-se o interesse pelo conhecimento da linguagem.
LITERATURA
Neste campo pode considerar-se o Sec. XVI, como verdadeiramente excepcional: a língua fixou-se e foi capaz de cultivar todos os géneros, de exprimir todos os sentimentos pela flexibilidade de sintaxe e por muitos vocábulos introduzidos no seu uso. Tratam-se todos os temas, escreve-se história, novelas, obras morais e científicas, poesia,  elevando assim às alturas as letras portuguesas. É neste século que se cria o teatro em Portugal.

POESIA
Sá de Miranda - Introduziu em Portugal os modelos que vieram renovar a nossa literatura, mas deve-se-lhe sobretudo, a introdução da técnica métrica italiana, como:  o soneto, a canção, a elegia e o decassílabo.  Escreveu cartas, sonetos éclogas, elegias, canções, o poema “Vida de Stª. Maria Egipcíaca”, e duas comédias: “ Estrangeiros e Vilhalpandos. As suas melhores obras são as cartas nas quais nos dá lições de rígida moral.

Bernardim Ribeiro – Sob a influência dos amores contrariados, escreveu o romance “Menina e Moça”. As sua éclogas são melancólicas de grande beleza poética. Com elas iniciou o Bucolismo no nosso país, no qual não foi excedido por nenhum outro poeta do mesmo género.
Cristóvão Falcão – Escreveu a écloga “Crisfal” de (Cris-tovão Fal-cão), duma grande simplicidade e de comovente inspiração.
António Ferreira – Introduziu,  em Portugal, o verso solto. Escreveu, neste verso, a tragédia “Castro”. É a sua melhor produção literária. Escreveu éclogas, elegias, sonetos e epístolas, reunidas num volume intitulado “Poemas Lusitanos e duas comédias – “Brito” e “Cioso”. As suas obras impõem-se pela pureza de linguagem.
Frei Agostinho da Cruz – Entrou cedo para a vida conventual rasgando, nessa altura, todas as suas poesias profanas. Foi um dos maiores poetas do seu tempo. Deixou-nos poesias místicas onde revela um superior talento e uma formosíssima inspiração. Foi também o poeta da Arrábida.
            Excerto da Elegia II (sobre a Arrábida)
                As flores que levava já colhidas,
                Passando pelos vales enjeitava
                Por outras doutra nova cor vestidas.

                O livre passarinho, que voava,
                Cantando para o céu deixando a terra,
                Da terra para o céu me encaminhava.

Diogo Bernardes – Era irmão de Fr. Agostinho da Cruz. Pertence à escola de Sá de Miranda. Escreveu uma colecção de poesias religiosas intitulada “Várias rimas ao Bom Jesus; reuniu sonetos, canções e elegias nas “Flores do Lima” . A sua obra “O Lima”  é constituida por éclogas e cartas. Os seus versos têm notável encanto. Foi um dos maiores poetas do seu tempo.
POESIA ÉPICA
Luis de Camões – Escreveu o poema épico “Os Lusíadas – a sua grande coroa de glória e uma das primeiras epopeias mundiais. Foi um dos maiores poetas líricos do mundo e  nenhum outro poeta português conseguiu igualar a beleza dos seus sonetos. Escreveu, no género lírico, além de sonetos, elegias, odes, epístolas, canções e redondilhas. Para o teatro escreveu três comédias: “Anfitriões”, “El-Rei Celeuco” e “Filodemo”.
Gerónimo Corte Real – Foi poeta, soldado e pintor. Escreveu três poemas: “Segundo Cerco de Diu” e “Naufrágio de Sepúlveda, em verso solto e decassílabo, e “Austriada”, em espanhol.
Francisco de Andrade – Foi cronista do reino, escreveu o poema “Primeiro Cerco de Diu”, em vinte cânticos, versos de oitava rima; a figura principal do seu poema é D. João de Castro. Esta obra é considerada, dentro da sua categoria, uma das piores do século. Em prosa escreveu a “Crónica de D. João II”.
DRAMA
Gil Vicente – Artista de múltiplas facetas,  crê-se que tenha nascido  cerca de 1460. Já se encontram poesias dele no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Além de poeta, teria sido ourives de valor, atribuindo-se a ele a bela Custódia de Belém, que é considerada uma das mais preciosas  jóias da ourivesaria portuguesa.
Foi o Fundador do Teatro Nacional , onde se notabilizou. A sua primeir obra de teatro é o “Monólogo da Visitação ou do Vaqueiro” , recitado pelo autor quando do nascimento do rei D. João III.  Gil Vicente, para além de autor, era ensaiador, actor e musicógrafo das sua próprias obras.  Escreveu 44 autos que se agrupam em três géneros diferentes:
               
  •                 Hieráticos, ou Autos de Devoção- obras de cunho religioso – como o “Auto da Alma”, o “Auto  da Fé”, “Autos da Barcas do Inferno e do Purgatório”, etc...              
  •                 Aristocráticos, ou tragicomédias, como os “Autos da Fama, Exortação da Guerra e Cortes de  Júpiter”               
  •                 Populares, ou farsas, como “A Farça do Velho da Horta”, A Farsa de Inês Pereira”, “A Farça  do juiz da Beira”, etc...
Afonso Álvares – Escreveu quatro autos sobre assuntos religiosos: “Santa Bárbara”, “Santo António”,”S.Tiago Apóstolo” e “S. Vicente Mártir: os dois últimos perderam-se.

Baltazar Dias – Foi o autor melhor recebido pelo povo.  As suas obras são de cariz  popular. Escreveu  entre outros , o “Auto de Santo Aleixo, o “Auto de Santa Catarina e o “Auto de Salomão”.

António Ribeiro Chiado – Escreveu o “Auto da natural invensão”, que foi representado diante de D. João III, o “Auto das Regateiras”, o “Auto da prática de oito figuras e o “Auto da prática dos compadres”.

António Prestes – Escreveu , entre outros, os seguintes autos: “Avé-Maria”, de carácter religioso,
                                      “Ciosa”, “Mouro Encantado”, “Dois Irmãos”, etc...

Simão Machado – Foi o mais hábil discípulo de GilVicente.  Escreveu duas comédias que ficaram  célebres:  “Cerco de Diu e “Pastora Alfea, em português e espanhol.  

PROSA
Além do teatro vicentino ou popular, há ainda a considerar o teatro clássico, constituido por comédias imitadas do latim. Entre os que pertenceram a esta escola salientam-se:

Sá de Miranda – Já referido
António Ferreira - Já referido
Jorge Ferreira de Vasconcelos – Escreveu três comédias: “Eufrosina (em prosa) , “Ulysipo  “Aulegrafia. Notável pelo espírito verdadeiramente clássico que deu às suas obras.

HISTÓRIA
O género mais cultivado de prosa, neste século, foi o “histórico”.
Como é do conhecimento geral, Fernão Lopes criou a “historiografia”. A sua acção limitou-se
à descrição da vida dos reis e dos factos históricos sucedidos dentro da Península. Nada
escreveu sobre a historiografia ultramarina, sendo Eanes de Zurara quem começou, com a narração da conquista de Ceut, na 3ª. parte da crónica de D. João I, e com a crónica do descobrimento e conquista da Guiné. A sua obra foi continuada pelos brilhantes historiadores
do Séc. XVI. Os principais historiadores foram:
João de Barros – Exerceu os cargos de Governador da Fortaleza da Mina, tesoureiro e, mais tarde, Feitor da Casa da Índia. Era um vulto de grande cultura escreveu:
                          Ásia”, dividida em quatro décadas, na qual faz a história dos portugueses na                           Ìndia.
                         Diálogos da viciosa vergonha e diálogos com dois filhos seus, obras morais;
                          uma “Gramática da língua Portuguesa”
                         e a novela de cavalaria “Crónica do Imperador Clarimundo”.
É apelidado de Tito Lívio português.
Diogo do Couto – Viveu sempre na Índia onde foi companheiro de Camões; morreu em Goa.
Continou a “História da Índia”, que João de Barros não tinha terminado. Escreveu “9 Décadas”, “Soldado Prático” (causas da decadência dos portugueses na Ásia), e a “Vida de D. Paulo de Lima Pereira”.

Damião de Góis – Residiu na Flandres, foi muito viajado, desempenhou várias missões diplomáticas, também foi guarda da Torre do Tombo. Foi preso pela Inquisição.  É um dos nossos maiores clássicos. É autor, entre outras, das seguintes  obras: “Crónica de D. Manuel”, “Crónica do Príncipe D. João”, um “Nobiliário das familias do reino”; em latim, escreveu “A embaixada de Prestes  João” e traduziu do latim “Catão maior ou Da Velhice, de Cícero”.  

D. Jerónimo Osório – Foi bispo de Silves e cursou diversas universidades estrangeiras. Escreveu quase todas as obras em latim. A mais importante é “De rebus Emmanuelis gestis”.  Deixou 9 cartas, a mais conhecida é a dirigida a D. Sebastião , tentando dissuadi-lo da campanha de África.
É conhecido como o  Cícero português.

Fernão Lopes da Castanheda -  Viveu na Índia. Escreveu, com grande verdade, a “História do descobrimento e conquista da Índia pelos portugueses” .
                                                    
Gaspar Correia – Foi também para a Índia. É autor das “Lendas da Índia”, nas quais descreve hábitos e tradições dos povos orientais.

António Galvão – Foi governador das Molucas. Escreveu memórias das suas aventuras a que deu o nome de “Tratado dos descobrimentos antigos e modernos.” 

Samuel Usque - Era de origem judaica. Escreveu “Consolação às tribulações de Israel, em forma de diálogo. Nesta obra descreve os martírios dos judeus.

Afonso Brás de Albuquerque Filho de Afonso de Albuquerque. Foi conselheiro de D.João III; é autor do livro “Comentários do “Grande Afonso de Albuquerque”. Descreve em linguagem pura factos da vida de seu pai.
Nota: Segundo a disciplina de “Património Local”, Afonso Brás de Albuquerque, dono do Palácio da Bacalhoa, compromete-se por - Escritura de Obrigação – lavrada a 09 de Julho de 1570, a reedificar a Igreja de S. Simão de Azeitão, sobre as ruinas da antiga capela,  bem como fazer com que o lugar fosse elevado a Freguesia.                                   

MORAL E MÍSTICA
Neste período destacam-se na literatura moral e mística :
Fr. Heitor Pinto – Escreveu com grande pureza de linguagem, revelando grande cultura, a “Imagem da vida cristã”.
Fr. Amador Arrais – Escreveu  “Diálogos”, numa imagem castiça.
Fr. Tomé de Jesus – Escreveu “Trabalhos de Jesus”, páginas verdadeiramente clássicas.

NOVELISTICA
Já referimos:  Bernardim Ribeiro e João de Barros

Jorge Ferreira de Vasconcelos – Apesar de já ter sido referido na prosa, nesta área escreveu    “Memorial da segunda Távola Redonda”, novela de cavalaria; o seu herói é Sagramor. O estilo é elegante e possui um bom enredo.

VIAGENS
Fernão Mendes Pinto – Esteve em vários países do oriente.
Escreveu a Peregrinação, onde descreve as suas viagens e mil e uma aventuras.
É muito apreciado pelas notícias que fornece dos povos visitados e pela singeleza do estilo.

Fr. Pantaleão de Aveiro – Indo por terra à Palestina, escreveu un interessante “Itenerário da Terra Santa”.
História Trágico-Marítima – Clecção de doze descrições de naufrágios  de naus portuguesas ao serviço da Ìndia. Apesar da simplicidade do estilo, estas narrativas impressionam  pela sua grande intensidade dramática.

ELOQUÊNCIA
Fr. Bartolomeu dos Mártires – Arcebispo de Braga, muito austero, de grande bondade, foi um
primoroso pregador. Os seus sermões, sem galas de retórica,eram preparados numa linguagem simples, própria parao entendimento do povo, que o amava.  É autor do “Catecismo da Doutrina Cristã”.

 Diogo de Paiva Andrade – Foi um dos nosos representantes no Concílio de Trento, e deixou-nos 181  sermões.
                                                           
ANÁLISE SUMÁRIA DAS ESTROFES  95-100 DO CANTO V DE “OS Lusíadas”
CRÍTICA DE CAMÕES À FALTA DE CULTURA DA SUA ÉPOCA

1. CONTEÚDO
Nas estrofes em análise, estabelece-se uma oposição entre dois tempos: o da Antiguidade Clássica  e o do Portugal de 500 (Séc. XVI). Faz-se aqui um levantamento dos aspectos em oposição, tendo em conta o seguinte:
                              
                            Antiguidade Clássica                         Portugal (Séc. XVI)

                            Hélade ou Grécia
                            Itália  -  Roma                                                          
 NAÇÕES             HispaniaEspanha                                Lusitania                           
                           Gália ou França
                           Bárbara Nação ou Germania           

                          Aquiles
                          Eneias
HERÓIS             Alexandre Magno “O Grande           Vasco da Gama
                          Octávio César Augusto
                          Júlio César
                           
POETAS/           Virgílio
ESCRITORES      Homero
                          Cícero                                              Camões
                          Júlio César
PERSON.
MITOLÓGICAS    Musas                                             Tágides
                                  
                           
                                                                                                                                                                                                                                                         

2. HISTORICAMENTE,  AS PERSONAGENS REFERIDAS
        Aquiles (Etrofe 98)     
Considerado um semi-deus, um grande herói, cujo destaque maior da sua actividade
bélica foi vencer Heitor na guerra de Tróia.
Eneias (Estrofe 98)
Destacou-se também, como herói na guerra de Tróia, onde teve uma brilhante intervenção.
Alexandre Magno “O Grande” (Estrofe 95)
Foi discípulo de Aristóteles, recebendo dele a influência da cultura grega.
A importância de Alexandre para a Antiguidade foi muito grande, principalmente a nível
cultural. Foi o responsável pela divulgação da cultura grega, sendo profundo conhecedor da obra de Homero.
A fusão da cultura grega deu origem à criação do “Helenismo”.
Cipião Emiliano (Estrofe 95)
 Filho adoptivo de Cipião “O Africano”, notabilizou-se como navegador; diz-se que talvez       
tenha sido ele um descobridor do “Novo Mundo”. Conta-se que gostava de ajudar
Terêncio nos textos das suas comédias.
César Augusto (Estrofe 96)
De seu primeiro nome Octávio, foi o 1º. Imperador Romano. No seu tempo foram fundadas as bibliotecas públicas. A literatura romana que até aí sofria a influência grega, viu aqui a sua independência, tornando-se uma das mais brilhantes culturas do Mundo Ocidental.
        Júlio César (Estrofes 95-96)
Grande líder militar e político, foi advogado no Fórum Romano; mais tarde, foi para
Rodes estudar filosofia e retórica. A sua obra escrita coloca-o como um dos grandes
Mestres da língua latina.
                            
                            Estrofe – 96  -  Verso 3
               Mas, numa mão a pena e noutra a lança
Virgílio (Estrofe 98)
Como poeta bucólico, exalta as cenas campestres e a simplicidade da vida agrícola. Um dos seus mais belos poemas é “Eneida”- epopeia - cuja figura principal é o herói  Eneidas.
Homero (Estrofes 96 e 98)
Poeta cego, escreveu 2 poemas “Heróicos”:
               A Ilíada”- Onde descreve a luta entre dois heróis de Tróia, Heitor e Aquiles.
                A Odisseia”- Onde conta as desventuras de Ulisses perseguido pela cólera dos                 Deuses, no regresso à sua Iha de Ítaca.
 Cícero (Estrofe 96)
Considerado uma das mentes mais versáteis de Roma Antiga. Foi linguísta, político, orador e filósofo. Traduziu muitos conceitos teóricos da filosofia grega para latim.
Júlio César (Estrofes 95-96)
As suas obras são narrativas aparentemente simples, mas na realidade funcionam
como manobras de propaganda política, e têm valor literário.
 De Bello Gallico”: Comentários sobre as campanhas da Gália.
         De Bello Civiti”: Comentários sobre a recusa de obedecer ao Senado e à Guerra Civil.
Musas (Estrofe 99)
São Entidades Mitológicas às quais são atribuídas capacidades de inspirar a criação artística ou científica.
  • Calíope (Estrofe 99): musa da Epopeia, da Poesia e da Eloquência.
  • Tágides (Estrofe 100): são Ninfas, chamadas Filhas do Tejo, a quem Camões pede inspiração para compor os “Lusíadas”. 
3. CRITICA FEITA POR CAMÕES AOS SEUS CONTERRÂNEOS E  CONTEMPORÂNEOS (Estrofes 97-98)

Segundo Camões, as figuras atrás referidas, para além da arte bélica tinham todas elas grande erudição.
No que respeita a Portugal, o poeta sente-se apreensivo e censura os seus conterrâneos, na medida em que a Epopeia dos Descobrimentos só produziu heróis de força bruta, tornando-os incultos. Dá como exemplo o próprio Vasco da Gama na Estrofe
         99 verso 1   ... “Às Musas agradeça o nosso Gama”...
                                   Verso síntese: Porque, quem não sabe arte, não na estima  
                                                            (Estrofe 97- último verso)
4. IDEIAS DEFENDIDAS EM CADA ESTROFE:
            Estrofe 95
O poeta faz comparações entre os heróis da Antiguidade Clássica e os heróis     portugueses:   feitos heróricos vs arte, pondo em oposição o saber e a eloquência dos            primeiros, e a falta de cultura e interesse pela literatura, dos segundos.
            Estrofe 96
Continua a comparação dentro de mesmo tipo de análise.
           Estrofe 97
Esta estrofe é, sem dúvida, a conclusão das anteriores:
  •  Portugueses vs Homem da Antiguidade Clássica e o porquê dessa diferença
  • Enfim” – É como que a palavra chave da desilusão e do queixume que o poeta tem  contra os “grandes capitães”, incluindo o próprio Vasco da Gama, pela  indiferença para com a divulgação dos seus feitos, ao contrário do que se  passava com os heróis da Antiguidade Clássica.
            Estrofe 98
Camões continua a crítica aos seus conterrâneos/contemporâneos, pelo facto dos        portugueses nunca terem sabido aliar a força e a coragem, ao saber e à eloquência,            destacando a importância das letras.
            Estrofe 99
O poeta continua a censura a Vasco da Gama, já depois da sua morte, no sentido de    que se não fosse a gentileza das Musas do Tejo (Tágides) inspiradoras de Camões, os feitos do Gama não teriam sidos falados.
           Estrofe 100
Apesar de tudo, Camões movido pelo amor à Pátria, insiste no propósito de continuar a engrandecer, com os seus versos, os grandes feitos realizados. Manifesta, deste modo, a vertente pedagógica da sua epopeia, na defesa da realização plena do Homem em todas as suas capacidades.

5. RELACIONAMENTO DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA C/OS CONCEITOS DE
“RENASCIMENTO” E “HUMANISMO

            Renascimento: Corresponde ao renascer de todas as artes com base na imitação da filosofia dos autores greco-latinos, entre os Séc. XIV e XVI .
           
            Humanismo  É uma corrente de pensamento, que considera o Homem como o centro de tudo na sabedoria universal. A este conceito dá-se também o nome de “Antropocentrismo”,
ao contrário do que acontecia na Idade Média, cuja visão do universo considerava que -Deus era o centro de tudo. (Teocentrismo”).

6. ACTUALIDADE E UNIVERSALIDADE DA MENSAGEM DE CAMÕES

De facto se não houvesse um poeta que “cantasse” os seus feitos gloriosos, Vasco da Gama seria mais um entre muitos outros “valorosos capitães”,de  que a posteridade pouco ou nada saberia. Ao contrário, Camões foi guerreiro e poeta, um verdadeiro Homem do seu tempo. As letras é que permitiram universalizar e eternizar os seus feitos. De facto, a   Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, foi equivalente na época, à chegada do Homem à Lua, no Séc. XX.
Apesar de todas as descobertas feitas ao longo do século passado, a falta de cultura” ainda continua actual: não é só um problema específico português, mas sim universal (África, América Latina, etc...). A cultura é um dos pilares  de qualquer sociedade por mais avançada que ela seja. De facto, a cultura (“arte em Camões”) continuará sempre a ser uma espécie de “Valor Humano” intemporal.
7. ASPECTOS FORMAIS:

 Estrofes ou Estâncias - São formadas por 8 versos e cada verso por decassílabos com acento nas 6ª e 10ª. sílabas, são considerados “versos heróicos”.  Os 6 primeiros versos  de cada estrofe são cruzados e os 2 últimos são “emparelhados”.
 Tom Épico - “Os Lusíadas”estão escritos no modo literário chamado – Épico -,  cuja forma é  apropriada ao “canto”. Como já atrás foi dito, estes versos são compostos por  decassílabos (medida do verso mais compatível com a profundidade e importância do tema).
8. QUAL A IMPORTÂNCIA DA “PALAVRA PARA CAMÕES?
A “Palavra” para Camões, génio maior da nossa literatura, era sem dúvida um meio   de transmissão do Sublime e da Eloquência. Para o poeta e homem Luis de Camões , a  “Palavra”terá sido talvez a sua verdadeira forma de expressão. Da mesma maneira  que 400 anos depois, Pessoa confessou: - “A minha Pátria é a Língua Portuguesa”-
SINOPSE DOS ACONTECIMENTOS NO SÉC. XVI
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil
Em 1501, Gaspar Corte Real descobriu a Terra Nova. João da Nova descobriu as Ilhas Ascenção

EM 1502, João da Nova descobre a Ilha de Stª. Helena

EM 1505, foi nomeado o 1º. Vice-Rei da Índia de seu nome D. Francisco de Almeida que conquistou Quiloa e Mombaça, na Costa Oriental de África. Na Ìndia fundou as fortalezas de Angediva, Cananor e Cochim. Em frente a Diu derrotou uma armada Turca.

EM 1506, Tristão da Cunha descobriu as Ilhas de Tristão da Cunha e Madagáscar

EM 1507, f oi nomeado o 2º. Vice-Rei da Índia Afonso de Albuquerque que conquistou Ormuz

EM 1510, Conquista de Goa – Capital do Império Português no Oriente –

EM 1511, Conquista de Malaca

EM 1516, António Taveira descobriu Timor

EM 1519, Fernão e Magalhães Empreendeu a 1ª. Viagem de Circum-Navegação, em navios espanhóis demonstrando com esta viagem que a Terra era redonda. Por ter morrido em combatenas Filipinas, quem terminou a viagem foi Sebastião Escano.

EM 1521, sobe ao trono D. João III

EM 1525, nasce Luís Vaz de Camões

EM 1529, Assédio Muçulmano de Viena

EM 1530, Início da colonização do Brasil

EM 1534, Cisma Anglicano; Fundação da Companhia de Jesus

EM 1536, Transferência da Universidade de Lisboa para Coimbra

EM 1537, Reforma da Universidade de Coimbra

EM 1538, 1º. Cerco de Diu

EM 1539, Camões teria frequentado os estudos até 1542, em Coimbra

EM 1540, Introdução em Portugal da Companhia de Jesus

EM 1543, Camões teria regressado a Lisboa, vindo de Coimbra

EM 1546, morre Lutero; 2º. Cerco de Diu

EM 1547, morre Henrique VIII de Inglaterra. Coroação de Ivan – O Terivel- da Rússia. É fundado o Colégio das Artes
EM 1549, são fundadas as Missões Jesuitas no Japão

EM 1550, D. Afonso de Noronha assume o governo da ìndi 
EM 1553, Camões parte para a Índia, na armada de Fernão Álvares Cabral
EM 1554, D. Pedro de Menezes toma conta do Governo da Índia

EM 1555, Francisco Barreto assume o governo da Índia. A paz de Ausburé assinada por Carlos V e pelos Principes Protestantes

EM 1556, Camões parte para as Molucas

EM 1557, morre D. João III. Fundação de Macau

EM 1558, D. Constantino de Bragança é nomeado Vice-Rei da Índia. Camões vai das Molucas para Macau

EM 156, Camões regressa à Índia

EM 1561, D. Francisco Coutinho é nomeado Vice-Rei da Índia

EM 1562, nasce Lope de Vega
EM 1563,é publicado em Goa os “Colóquios” de Garcia de Orta

EM 1564, nascem Galileu Galilei e Shakespeare

EM 1565, morre Gil Vicente

EM 1568, D. Sebastião sobe ao Trono de Portugal

EM 1569, Camões embarca em Moçambique

EM 1570, Camões chega a Lisboa. O livro “Parnasso”  -  obra de eurudição , doutrina e filosofia (de autoria do próprio Camões) é-lhe roubado em Moçambique.

EM 1572, 1ª. publicação de Os Lusíadas

EM 1577, morre a Infanta D. Maria com 56 anos de idade

EM 1578, expedição a África e Batalha de Álcacer Quibir. Sobe ao trono de Portugal o Cardeal D. Henrique

EM 1579, a cidade de Lisboa é assolada pela Peste

EM 1580, morre Luis Vaz de Camões
(Frase citada de Camões como remate da sua vida:
“... e assi acabarei a vida, e verão todos que fui tão afeiçoado à minha Pátria, que não sòmente me contenta de morrer, mas de morrer com ela”)
Cortes de Almeirim. Felipe II de Espanha faz-se aclamar Rei de Portugal como Felipe I

EM 1581, derrota da Invencível Armada

EM 1582, morre Stª. Teresa D’Ávila
Fontes auxiliares de busca: 
  •   Gigantes da Literatura Universal, Editorial Verbo
  •  Renato Figueiredo, Breves Noções de História da Literatura Portuguesa 
  • História Geral e Pátria de António Mattoso  e António Henriques
  • Revista Oceânos – Tapeçarias (Fotos), cedidas por Kunsthistorisches Museum  Wien, para o trabalho realizado pela Drª.  Maria Antónia Quina Carvalho – Revista Nº. 13 de Março/1993.
  • Revista Oceânos – Porcelanas, fotos de artigos dos seguintes autores:  Maria Antónia Pinto, António Sapage e  Martim de Albuquerque – Revista Nº. 14  de Junho/1993.
  • Revista Oceânos – Iluminuras (Fotos) de artigos sobre Iluminura Portugesa Quinhentista – Revista Nº. 26 de Abril/Junho de 1996.
http://www.slide.com/r/DF_yHPqo1T9dnZfRPtW0ArnBFHXdiBTb?previous_view=lt_embedded_url
 ( slideshow com iluminuras)

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