quinta-feira, 18 de junho de 2015

(para uma) Análise de "O Gato e o Escuro", Mia Couto



ANÁLISE AO CONTO “O GATO E O ESCURO”
DE MIA COUTO

Acabado de ler o texto, pensei:
- Que engraçado, foi escrito para crianças! E os adultos?...
- Sim, afinal também é para eles!

Esta obra de Mia Couto é uma narrativa que se situa entre a fábula e o mito, e que está escrita duma forma maravilhosamente poética.
A linguagem utilizada pelo autor escora-se em vários neologismos, metáforas passando pela alegoria e delineando uma metamorfose (o gatinho amarelo às pintas vai ficar "escuro").

- neologismos - Porque o Autor tem a arte de transformar o linguajar numa inovação e transgressão permanente, brincando com as palavras, aglutinando-as, criando assim novos sentidos.
ex: - Pintalgato - PINTALGADO + GATO
- Atarantonto -ATARANTADO + TONTO

- metáforas –Estas figuras de estilo fazem servem no texto para manter o fascínio permanente pela transgressão dos limites, pelo proibido, pelas coisas que fascinam, mas que ao mesmo tempo causam medo.

Ex:
- Enxofrinhas  (as duas lágrimas “amarelas”, que o gato chorou, estão relacionadas com a cor do enxofre e com o sofrimento).
- Pirilampiscavam (os olhos luziam como os pirilampos
- Trespassagem do claro para o escuro (passar do dia para a noite)
- Estremolhado – (quando acordou molhado em lágrimas)

- alegoria –É uma representação de uma abstracção construida neste tipo de escrita por um encadeamento de metáforas. Neste livro a alegoria remete-nos por exemplo para: -o crescimento humano, através da aprendizagem do “escuro” (medo), da transgressão e da desobediência.

- metamorfose  - A personagem principal, a dada altura, transforma-se, mudando de cor: o que antes era amarelo com pintinhas, ficou preto.
De facto, as personagens são simbólicas, e o Pintalgato, por exemplo,
representa o ser humano no seu percurso de vida, enfrentando problemas e superando-os, metamorfoseando-se, portanto.

Quanto a esta fase , da metamorfose, podemos dividi-la em duas etapas, reflectindo sobre a nossa própria vida:

- Primeira Etapa: - Quando criança, não se tem a capacidade de perceber aquilo sobre  que o texto nos leva a pensar (por exemplo, vários aspectos que regem a ética duma sociedade).

- Segunda Etapa: - A criança cresce, torna-se adulto, e nessa altura já tem a capacidade e a possibilidade de análise, para a resolução dos problemas que o rodeiam. . Mas, por vezes, por via da de uma má educação tem plasmado em si o tal de “preconceito” ; ou convencionalismo para o afastamento de pessoas e coisas, que lhe podem vir a causar graves problemas de descriminação.

Se for o caso, terá que existir um trabalho entre a pré adolescência e a adolescência, para que o mais breve possível, se possa desconstruir tais ideias, para que o adulto do futuro venha a ser um ser humano melhor.

Nesta prosa poética “O Gato e o Escuro”, destrói-se o preconceito, que neste caso, é “o medo”, personificado na figura metafórica do escuro, pertencente ao imaginário colectivo... tal desconstrução vem até nós através de experiências, de reflexão e das vivências que cada ser humano faz ao longo da sua vida, como se de uma “iniciação se tratasse”.

Assim, o Pintalgato na sua infância pura e inocente, vai fazer o seu primeiro ritual de iniciação no deserto do seu desconhecimento, quando quebra as regras de obediência e de limites impostos pela sua mãe gata.
Não podemos deixar de dizer que ele é também um símbolo humano/humanizado
de perspicácia, curiosidade .

 Quando começa a travessia do dia para a noite, ele vai conhecer e perceber o seu preconceito em relação a esse medo que ele sente pelo próprio escuro, que representa o Outro , o desconhecido. É interessante ver que o gato gera uma relação de complemento e não de dualidade com esse Outro (que também é ele) igual, fazendo parte da sua existência.

 Essa situação é visível, quando o Pintalgato vê o reflexo da sua própria imagem, no escuro da fresta preta do olho de sua mãe.


Chegando ao fim desta pequena análise, muito ficou por dizer.
- Mas devo referir que Mia Couto "teorizou"/encenou neste conto poético várias simbologias da Literatura Infantil, que se constituem à volta da metamorfose e dão origem a um “idioleto”muito rico.

Azeitão 28.05.2015

Carmo Bairrada


“O Pintalgato”

Curioso, o gatinho queria ver para além do seu mundo. Saber o que havia para lá da luz do Sol que tanto brilhava... a mãe pedia-lhe que não atravessasse a fronteira entre a claridade e o escuro.
Receava que ele. como se fosse uma criança, ficasse exposto ao que poderia, para si, ser perigoso.
Quando descobriu o que se encontrava do outro lado de lá do que lhe era permitido, assustou-se.
Já não se reconhecia, porque o escuro tinha feito de si um gato negro, que nem ele próprio reconhecia. Concluiu que nem nos sonhos gostamos de mergulhar na escuridão. Quando a mãe o abraçou e mergulhou na bondade do seu colo, o “pintalgato” descobriu que mesmo na escuridão, a luz pode sempre brilhar desde que a sintamos  morar dentro de nós.

Adalberta, Maio/Junho 2015


                                   
 “ O PINTALGATO”
O escritor  põe na sua narrativa” abensonhada” um pouco da sua língua Materna .“ O Português de Moçambique”! A linguagem poética que utiliza neste conto, que eu desconhecia totalmente, recorda-nos que a criança que há em nó, só desaparece quando a escuridão dos nossos sentimentos a dissipa na lonjura do nosso querer! Sonhar, desobedecer ou chorar de arrependimento, Faz parte do nosso crescimento como humanos! Temos em comum com os animais, A curiosidade. No fundo, em cada um de nós existe um “Pintalgato”! Mia Couto, é neste conto, a criança grande que todos temos dentro de nós! Ele soube expressar escrevendo tudo isso. E nós? Saberemos agradecer-lhe por dar voz ao que não sabemos dizer? Saberemos nós “ “Esfregar carinho,” tal como aquela Mãe gata ternurenta e compreensiva o fez com o seu filhote o “ Pintalgatito” quando ele atravessou a fronteira da obediência, se tornou da cor da escuridão? Quando o viu chorar, confortou-o com palavras “Abensonhadas” Com amoroso carinho, ainda ofereceu o seu amor de Mãe ao “Escuro” que desgostoso se lamentava: “ Ninguém gosta de mim, minha cor nem faz parte do arco-íris”! Belíssima liçao, esta que nos dá a Mãe gata! E nós ‘Seremos capazes de sair da nossa “Escuridão “ com tal pureza de sentimentos? “Pintalgatos “ somos todos nós! Curiosos, entramos na “Escuridão,” Desobedecendo aos princípios que a nossa condição humana Nos impõe. Ao sair, nem sempre temos quem nos espere, com a carinhosa compreensão e nos “Esfregue carinho” como aconteceu com o “Pintalgatito”! Sonhou? Nós também sonhamos, também queremos a nossa cor no” arco-íris”    O amor e a ternura que esta Mãe soube dar ao seu filhote! Merecemos? Isso, fica para outro conto que Mia Conto nos contará, com toda a sua sabedoria e Talento, “Sorrindo Bondades”

Elita Guerreiro *4/6/2015

Sem comentários: