quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Alba ou Alvorada: "Levantou- s' a velida"



Levantou-s'a velida,
    levantou-s'alva,
e vai lavar camisas
     eno alto.
Vai-las lavar alva.

Levantou-s'a louçana,
     levantou-s'alva,
e vai lavar delgadas
     eno alto:
Vai-las lavar alva.

E vai lavar camisas,
     levantou-s'alva,
o vento lhas desvía
     eno alto.
Vai-las lavar alva.

E vai lavar delgadas;
     levantou-s'alva,
o vento lhas levaba
     eno alto.
Vai-las lavar alva.

O vento lhas desvía;
     levantou-s'alva;
meteu-s'alva en ira
     eno alto.
Vai-las lavar alva.

O vento lhas levava;
     levantou-s'alva;
meteu-s'alva en sanha
     eno alto:
Vai-las lavar alva.
D. Dinis

Levantou-se a bela;
rompe a alvorada;
vai lavar camisas
no rio:
lava-as, de alvorada.

Levantou-se a alva;
rompe a alvorada:
alvas roupas lava
no rio:
lava-as, de alvorada.

Vai lavar camisas;
rompe a alvorada;
o vento as desvia
no rio:
lava-as, de alvorada.

Alvas roupas lava;
rompe a alvorada;
o vento as levava
no rio:
lava-as, de alvorada.

O vento as desvia;
rompe a alvorada;
fica a alva em ira
no rio:
lava-as, de alvorada.

O vento as levava;
rompe a alvorada;
fica a alva irada
no rio:
lava-as, de alvorada.

Natália Correia, Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses

ALVORADA

Quando ela se levantou
Despertando do seu sonho
Já era de madrugada
E o sol vinha a caminho

Ao acordar do seu sonho
Abriu os olhos pr’aurora
Levantou-se lesta e bela
Que o sol já vinha a caminho

N’ água da fonte mirou
A imagem do rosto belo
E o corpo lindo oferecido
Ao sol que vinha a caminho

Mercedes Ferrari


«POESIA LIVRE»
BASEADA NUM POEMA d' el-Rei D.Dinis “Levantou-se a velida”

Na alvorada
Fria e ventosa
Sai alva banhada
E mui graciosa
A caminho do rio
Toda cheirosa.

Dentro do alguidar
Leva suas camisas
Para delas cuidar
Começa a lavá-las
Começa a estendê-las.
O vento com rajadas
Leva as camisas lavadas.

E o vento diz:
-Vai las lavar alva.

Alva vai apanhá-las
Torna a lavá-las
Torna a estendê-las
O vento manhoso
Volta a levar-lhas.

E o vento diz:
-Vai las lavar alva.

Traz alva as camisas
De novo as lava
De novo as estende
O vento maroto
Assopra p’ra elas.

E o vento diz-lhe:
-Vai las lavar alva.

Irada e assanhada
Fala p’ro vento laivoso:
- Vou ficar sem nada
Deixa as camisas
Vento teimoso.

E o vento diz-lhe:
-Vai las lavar alva.

Azeitão, 15-01-2016
Carmo Bairrada


“O VENTO E A ALVA”

Alva como a neve foi lavar no rio,
E o vento leve ao vê-la sorriu!

Alva a madrugada que a viu chegar,
Com as roupas brancas para as lavar!

Traquina o vento com ela brincou,
E a roupa delicada dela afastou!

Irrita-se então a alva donzela,
Porque estraga o vento o trabalho dela?

Já nasceu a alva, já é madrugada,
E a alva donzela ainda zangada!

Quis retê-la o vento e quase conseguiu,
Por gostar de vê-la tão alva no rio!...


Elita Guerreiro* 14/1/2016

“TROVAS DO TEMPO QUE PASSA”
        “ CANTAR DE AMIGO”

        Amigo, vem ver crescer
        O rosmaninho no monte,
        E o ribeiro que de mansinho
        Vai desaguar na fonte!

        Amigo, vem que escurece
        E talvez não haja luar,
        Quero ver teu rosto lindo
        Antes do dia chegar!

        Amigo, vem pelo caminho
        Que a rosa brava perfuma,
        Quebra o silêncio da noite
        Pisa de leve a caruma!

        Vem amigo, vem amigo,
        Não me faças esperar,
        Como é bom estar contigo
        Nesta noite sem luar!...

       Elita Guerreiro

Sem comentários: